sexta-feira, 23 de abril de 2010

Alegrias

FORÇAS E FRAQUEZAS DA IGREJA
Pedofilia, Um Caso Mal Ajambrado
José Jorge Peralta
XXXIV
I - ALEGRIA, ESPERANÇA E OUSADIA

1. Falo neste estudo, de uma Instituição admirável e paradoxal: tem forças de gigante e fraquezas e debilidades de ovelha no pasto, vigiada por lobos. Abordo este assunto, excepcionalmente, pois este é hoje um foco secundário em minhas reflexões. Falo por apelo interior, não esperado.
Por longos 70 dias o tema tomou conta de minha mente, exigindo atenção total. Senti que  o texto adquiria dimensões de algo que vem para ficar; para marcar posição para a posteridade, num momento inspirador e instigante.
Falo, da perspectiva de um cidadão, a quem tudo o que é humano sempre interessa.
Dediquei a este ensaio a mesma atenção que se dá a um filho.
As ideias que aqui exponho são desdobramentos de um longo trabalho que redigi: “Abalos na Igreja, Crise na Humanidade”, publicado no site blogue: www.alfa8omega.blogspot.com  
            Falo, com respeito e ousadia, da Instituição mais antiga do Ocidente, a Igreja de Cristo. A Igreja que tem, como força matriz, a doutrina do Evangelho; uma doutrina que deslumbrou o mundo.
Cristo, na História, foi o ser humano que maior influência exerceu na humanidade, por sua doutrina de valores: a dignidade da pessoa humana, e a interação entre os humanos, com a superação dos egoísmos e da selvageria. Deu ênfase à alteridade: “amai-vos uns aos outros...” Insistiu na cooperação mútua e no altruísmo. Falou por palavras e atitudes. Foi convincente. Teve credibilidade.
Deixou uma mensagem de esperança para toda a humanidade, que já  estava  nas suas cogitações: “ide pelo mundo inteiro”. Almejou a fraternidade universal. Foi contundente: “Sede mansos...  sede astutos ...” “Saiam (...) vocês fizeram do Templo um covil de ladrões...”
Falo de uma Instituição que, em nosso País, tem uma história de belezas extraordinárias. Um paradigma mundial na construção da sociedade. É uma instituição viva, audaciosa e dinâmica. Está presente e atuante no mundo inteiro. É uma Instituição muito bela, amável e generosa. Mas tem alguns senões, algumas falhas ou imperfeições que precisam ser corrigidas. São  falhas humanas.
            Falo de uma Igreja que, através de sua história, prestou serviços de tal monta à humanidade que bem pode ser considerada o patrimônio imaterial maior de toda  a Civilização Ocidental.
            Ela difundiu no mundo  a lei do amor, a solidariedade, a fraternidade, o respeito mútuo, a dignidade humana e a espiritualidade. Alegria e esperança é a sua bandeira, na tempestade e na bonança.
            Para ser mais eficiente e consistente a sua ação, precisa contar com um corpo de consultores humanistas independentes do mundo inteiro, de todos os ramos da ciência e das artes, que exerçam o poder da crítica leal e consistente. Alguém que observe, do lado do povo, de fora da sacristia. Que mostre o outro lado da vida. Esta é uma regra sadia implantada nas grandes instituições, na atualidade, para não ficarem para trás. A vida do Cristão, com seus embates, é vivenciada na sociedade civil e não apenas nos templos.
Alguns paradigmas precisam ser revistos, com o passar do tempo, para se adequarem  às mudanças da sociedade.

2. Mas a mesma Igreja, em contradição com os princípios do Evangelho,  por fraqueza de alguns de seus representantes, também foi responsável por crimes bárbaros e execráveis, como as tristes tragédias da Inquisição e outras mais... “Abismo atrai abismo”
São os vícios humanos se aproveitando de uma Instituição de alta credibilidade, traindo seus princípios fundamentais. Consideraram-se seus donos e não seus serviçais. Daí o escândalo, os estragos e as dissensões.

            Falo aqui, de uma igreja sempre em crise de mudanças, como toda a natureza viva e  como tudo que é humano, tem momentos de Primavera e momentos de Inverno.
            Os Cristãos Católicos, como todos os demais devem estar  atentos à verdade. Saber ouvir críticas leais e razoáveis é dever de toda  a autoridade. A verdade, às vezes, dói. Não podemos evitá-la. Poder sem verdade é autoritarismo.
Na Terra, a igreja não é composta por anjos, mas de seres humanos, com as fragilidades que lhe são próprias.
            Quando, por algum equívoco, quiseram considerá-la feita, perfeita e imutável, aumentaram suas crises, seus paradoxos e suas dissensões. A Igreja vive, naturalmente e sofre as agruras do seu mundo, porque é solidária com ele.
Diante de grandes embates, consegue manter-se de pé. É muito mais forte que seus “algozes”. Mas a Igreja não existe para vencer ninguém. Existe para convencer  as consciências e para  fazer irmãos. A força  da Igreja  é  a  Palavra e o Testemunho; é a coragem, a determinação e a firmeza; a vida e a luz que propaga.
            A Igreja, como toda a natureza viva, vive seu percurso: um movimento de mudanças permanentes, adaptada aos ciclos vitais do universo. O transitório muda e o essencial permanece.
            Os acomodados querem que o transitório seja permanente. Daí as falhas.
            Confiar é preciso, mas participar, como sujeito, é essencial.  No Cristianismo as pessoas são sujeitos e não objetos. A consciência cidadã é essencial ao cristão. “Confia e não perguntes”, não é atitude cristã; é repressão.
Vivemos tempos sucessivos e contínuos de Primavera, Verão, Outono e Inverno. Tempos de Natal e Epifania; Morte e Ressurreição; de Pentecostes e Difusão; de Consolidação, Fraquezas e Perseguições. Num mesmo tempo podem  ser vividas as quatros estações, pelos quatro cantos do mundo. Esta é a condição da vida entre os humanos.
            No nosso mundo há  elementos permanentes, elementos mutáveis e elementos transitórios, alguns precários. Há sempre em todas as instituições, tendência a fazer perenes os elementos transitórios e até  os precários, ao sabor de interesses circunstanciais.
O poder é tentador; seduz as pessoas fracas e inseguras.
Na igreja não é diferente. Todos precisamos tirar a máscara, para  nos vermos no espelho como somos, e assim nos apresentarmos. Precisamos reencontrar o amor incondicional, dentro de nós. É lá que ele está.
Sinto a Igreja como um espaço de liberdade. Nunca como um espaço de opressão. Nunca como um espaço de obscuridade.

3. Quero, aqui, realçar as forças dinâmicas da Igreja, que na sua matriz perene, sustenta-se na mutação, na diversidade e na adversidade.
A Igreja nunca será uma instituição acabada. Ela se faz a cada dia. Sofre a cada dia as dores da vida. É uma Igreja composta e gerenciada por humanos e não por anjos. Precisamos reconhecer e aceitar esta condição.
Sofre as muitas fraquezas de muitos dos seus filhos, dos mais simples aos mais altos da hierarquia.
Pessoas da alta hierarquia da Igreja, aliás, de todas as igrejas, cometeram crimes cruéis, vexatórios e até hediondos, através da história. Mais importante do que chorar tanta indignidade é aprender a lição. Até porque há um outro lado: Pessoas da mesma Igreja, aos milhões, fizeram,  por toda a parte, ações admiráveis, beneméritas...É praxe histórica, os “donos” do poder tentarem  subjugar os “súditos”. Na Igreja, via de regra, é diferente.
Não é novidade que houve negatividades, no Cristianismo. Isso é narrado em prosa e verso, muitas vezes  de modo tendencioso e persecutório, por milhares de livros, etc, etc. Mas o que é mais grave é que muitos não aprenderam a fazer a lição de casa...
Numa sociedade doente, o vírus pode ferir todo e qualquer humano.
É natural que assim seja, como é natural que sempre rejeite o mal e opte pelo bem. Questão de opção... Questão de consciência...
Ninguém pode se espantar se um ou outro  eclesiástico  cometer algum deslize. É natural, numa instituição de humanos, numa sociedade doente.
 Padres, Bispos, Cardeais e até o Papa, podem errar. É bom que assim reconheçam. Faz parte da condição humana. Mas a Igreja jamais poderá compactuar com o erro. Deve pois detestá-lo e  corrigir os culpados. A impunidade é a mãe de todos os vícios, diz-se.
A alegria e a esperança sempre brilham no rosto da Igreja, nas mais desencontradas ou auspiciosas circunstâncias. Esta é a Igreja do Evangelho.
Na Igreja, temos outros cinco macaquinhos que nos convidam a ver, ouvir, falar, pensar e agir.
Esta é a  minha Igreja: tão humana que é divina e tão divina que é humana.

Isto me fez lembrar um belo poema de Fernando Pessoa: “O Meu Menino Jesus” (para ouvir, clique)

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