sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ousadia com Galhardia

VII
OUSADIA COM GALHARDIA
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Considero que um tema como “Pedofilia” não pode paralisar a Igreja, muito menos enxovalhar-lhe a honra. Até porque tem origem externa.
Mas também não pode deixar-nos apenas perplexos, sem reagir.
Todos temos, por dever, cultivar e preservar  a dignidade humana, como precondição de qualquer ação.
Considero este “escândalo” como um toque de despertar, até porque é um achaque, que está presente entre os humanos, de todas as classes sociais. É uma praga a ser debelada, com energia.
Abusar de crianças é sempre doentio e intolerável. Mas fechar os olhos para outros descalabros, no próprio arraial e na sociedade, é marca de farisaísmo.
Uma doença psíquica e até espiritual propaga-se por todos os estratos de nossa sociedade. Estamos construindo uma sociedade doente, consumista e desestruturada....
O “escândalo” provoca mais comoção social e dá mais lucro aos meios de comunicação. O lucro não justifica a real  ofensa a Instituições sérias, dignas e beneméritas; nem a quem quer que seja.
Para alguns é um toque de recolher. Para todos, um convite à ousadia. Não é mais possível imitar os quatro macaquinhos... como alguns vêm fazendo há séculos... (não ouço, não vejo e não falo). Não podemos imitar a ostra.
Numa sociedade doente, não é de estranhar que tal doença atinja alguns arraiais  da Igreja...
Queiramos ou não, estamos no limiar  de um novo tempo para a humanidade, na qual, ou interferimos e cooperamos, ajudando a  definir  os novos parâmetros, ou seremos levados de roldão , lastimando nossa incúria e nossa  omissão, pelas próximas gerações. A humanidade é obra de todos. Quem se omite  é irresponsável.
Queiramos ou não, a Igreja terá de mudar de rumo, para não ficar à margem e para cumprir a sua missão.

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É algo inconcebível, como uma questão, tão insignificante, na Igreja, em relação a todas  a sua imensa obra, pôde abalar e colocar em xeque e na mira das injúrias, infâmias, uma instituição, de 2.000 anos de existência, e com uma incalculável estrutura, sócio-cultural e de promoção humana,  em todas os cantos do mundo... Uma instituição benemérita na civilização mundial... É preciso, com lealdade, perguntar:  POR  QUÊ?!


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Barco, teu destino é navegar!

Gestores, o Papa e os Bispos precisam estar à altura dos novos
desafios, numa sociedade plural. Em muitos momentos precisam abdicar  de sua pompa, para compartilharem do ritmo de seu povo, como muitos já fazem. (Vaidade é sempre vaidade...)
Os apóstolos vestiam-se  igual ao povo e Cristo também. Por que não?! Só nas horas solenes, as pessoas usam trajes de gala.
 A barca não pode ficar ancorada no porto. Precisa prosseguir viagem, enfrentando as  eventuais tempestades do alto mar.  Seu destino é navegar...
Este é o momento para a Igreja se restaurar, na linha do Evangelho, buscando as origens, recuperando as suas forças matriciais, superando a burocracia, descartando fardos inúteis, que só incomodam e retardam a caminhada.
Precisamos voltar às fontes de águas límpidas... e revitalizantes.
Só entendo religião, qualquer religião, a cristã também, como um lugar de paz, respeito e hospitalidade, onde as pessoas seguem determinados princípios, por prazer e sem constrangimento ou por medo. O Cristianismo do Evangelho é Religião da solidariedade e da liberdade consciente e não do temor. Ou é ou não é. Sem meios termos.
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O Evangelho espalhou-se pelo mundo inteiro, como uma mensagem de Paz, de Solidariedade e de Esperança. Sair deste rumo é traição. Mas é preciso saber o que é paz, solidariedade e esperança...
Nunca podemos confundir os gaviões com os passarinhos (!).
Está na hora da verdade; na hora do exame de consciência. Hora de reagir.
A quem olhar este texto, com apreensão, parecendo-lhe que é ousado, respondo apenas que ninguém jamais foi mais ousado do que Cristo. Os empreendedores são sempre ousados, se não, não seriam empreendedores.
Neste momento, precisamos ser ousados, para recuperar o tempo perdido, o serviço da justiça e da paz.
Precisamos aprender a lição do José do Egito: no tempo da abastança, precisamos nos prevenir e reabastecer para o tempo da carestia.

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