sexta-feira, 23 de abril de 2010

Limiar de um novo tempo

VI
LIMIAR DE UM NOVO TEMPO

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No limiar de um novo tempo, que há muitos anos se vem anunciando, precisamos repensar, com responsabilidade e franqueza, de onde viemos e que rumos tomaremos. Precisamos rever nossa visão de mundo. Assim atuam todos os gestores bem sucedidos e eficientes. A Igreja precisa  estar à altura  de sua missão na história humana.
O presente texto vem a propósito da questão rumorosa e frágil da pedofilia no mundo, envolvendo parte ínfima do clero, colocada num contexto social amplo. É um texto em construção, devido à complexidade, surpresa e espanto que o tema provoca, e à inabilidade com que é enfrentado.
Foi por causa dessa inabilidade que decidi intervir, acreditando poder dar alguma contribuição, em perspectiva sistêmica e dinâmica.

Considero a pedofilia apenas como um problema sórdido da sociedade, a enfrentar, com decisão, mas não como o problema do clero. Há outros temas  implorando a atenção das Autoridades, de bem maior relevância. O mais importante é o futuro próximo, as lições dos fatos, em suas causas e consequências.  Motiva-me a vida. Este é o meu foco.
Abordo o caso num a perspectiva cultural e política.
Nada do que é humano me é estranho

A Igreja é um organismo vivo e vital, sempre in fieri (sempre se fazendo). Não algo feito, acabado. Como em tudo que é vivo, o permanente e o transitório dão-se as mãos, naturalmente. A Igreja vai caminhando, adaptando-se às novas condições da humanidade, no seu ritmo vital. Fala para as pessoas humanas do presente, com os olhos no futuro, sem esquecer o passado. Como instituição de humanos, tem valores heróicos de que se orgulhar e também fraquezas a deplorar, no próprio redil.
            A Igreja busca, acima de tudo, a verdade e a justiça. Esta é a sua  missão marcada. “ A verdade vos libertará”; está escrito.
Enfoco este ensaio nos princípios paradigmáticos da identidade e alteridade, diversidade cidadania, solidariedade e reciprocidade. Olho os fatos de várias perspectivas, contextualizando-os.

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Cumplicidade da Imprensa

Consideramos farisaica a reação histérica de certa imprensa, falada, escrita e televisiva.
A mesma imprensa que se omite diante de tantos milhares  de crimes de toda a espécie, que enlutam as sociedades do mundo, diariamente, e que é cúmplice em tantos desmandos, pelo mundo  afora; A mesma imprensa que faz apologia, direta  ou indiretamente, do sexo sem limites e da ideologia da vantagem em tudo, poderia se reconhecer como corresponsável por muitos  dos desmandos  da sociedade, se tivesse coragem  de se olhar no espelho. Também contabiliza glórias e falcatruas.
A imprensa, na peculiar arrogância, de alguns,  provoca sempre quem quer que detenha  algum poder.  Quem não souber se defender pode fenecer, quer  “deva” quer não... Esta é a sentença prévia... lata sententia.
              Desde já afirmamos: a Igreja, por sua alta  e decisiva missão na história merece ser tratada com mais respeito e veneração, ainda que alguns não se mostrem à altura de sua missão.
              Mas isto não é novidade, na história de nenhuma instituição, por mais venerável que seja.
              A fraqueza sempre acompanha, por perto, os projetos mais  grandiosos.
              Certas agressões que se publicam, de tão sórdidas e grosseiras, parecem vindas de alguma caverna de primatas e trogloditas vorazes, sem limites...
              No entanto, aqui, vou procurar manter uma posição equidistante, entre as forças e fraquezas da Igreja e da sociedade. Busco a reconciliação que exige mudanças de atitude, de parte a parte, evitando arrogâncias, sempre detestáveis.

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Limiar de um Novo Tempo

A primeira versão do texto eu a enviei, reservadamente, a outros  amigos, (no dia 1º de Abril de 2010). Manifestou-se um zeloso e sábio Pe. Jesuíta, de Portugal. A troca de comentários, muito estimulante está ao final do texto. Aguardo outros comentários, de quem se dispuser a fazê-los. Antecipadamente agradeço.
Que ninguém deixe de reagir.
Este é um texto sincero e ousado, de irmão para irmão, como um diálogo informal, ao pé do fogo...

Elaborei o presente texto, com esmero, como uma prestação de serviço à comunidade. Exerço o meu direito e dever de reagir e de tomar  posição, neste  momento de certa inquietação e de transição para algo novo. Mantive um estilo de linguagem de conversa informal, com a dignidade e o cuidado que o tema exige, mas sem requintes estilísticos.

10 comentários:

Instituto Tropical disse...

Agradeço os textos que me enviou. Os dois são muito
bons.
Envio-lhe um Ensaio que redigi, sobre o mesmo
assunto, em outra perspectiva.
O texto está em fase de avaliação. É ainda provisório.
Estou mandando para alguns amigos para verem se vale a pena passar adiante.
Eu penso que sim, mas... Sei lá?!
Se tiver um tempinho, dê ao menos um seu olhar, ainda que seja rápido.
Só espero que não considere o texto muito herege. Mas se considerar, tudo bem.
A gente nem sempre acerta.
Um grande Abraço.
JP

Instituto Tropical disse...

Caríssimo Amigo:
Estou disponível para dar seguimento ao seu trabalho. Acho muito honesto e digno em si. Avance.
Dou o meu grande aplauso ao chamar a atenção para
o fato de as crianças e os adolescentes não terem que estar a levar com estas conversas…
Das ideias que expressa, há duas em que não estou tão de acordo:
1) Embora estando de acordo que o Papa não se deveria ter dedicado à Irlanda pessoalmente, acho o caso da Irlanda tão fora do normal, que também não via que os bispos irlandeses tivessem força para avançar sozinhos! Eu estive na Irlanda e vi e ouvi coisas incríveis. Num país, onde todos os padres, há dez anos, andavam ainda vestidos de clergyman, agora todo aquele que se apresentasse assim em público era objecto de escárnio e até de maus tratos: uma coisa impensável há dez anos atrás, na cristianíssima Irlanda!... E ouço dizer que, depois do documento do Papa, as coisas apaziguaram um pouco.

2) Sobre o celibato. Embora também julgue que o celibato possa vir a ser um assunto “tratável”, acho que ele não tem nada, absolutamente nada que ver com a pedofilia. Os pastores protestantes – na maioria casados – têm problemas de pedofilia em percentagens mais elevadas… Por isso, acho que não deveria falar nele neste caso, para não confundir.

Desejo uma santa Páscoa!
Abraço amigo,
JC

Instituto Tropical disse...

Caríssimo P.JC
Fiquei encantado com suas palavras. Palavras de Pastor.
Mais do que de Pastor, de companheiro de viagem.
Não imaginaria que o caso da Irlanda fosse tão grave.
Pessoalmente tenho muita admiração por aquele país, e pelo sofrimento quase heróico dos católicos.
Não mereciam tal constrangimento, se é que não é armação da imprensa(!).
Há que ouvir os dois lados, sem preconceitos. Mas isto já é uma outra questão de estratégia.

Questiono a intervenção do Papa por ter, com esse ato, dado ares de cidadania a um tema tão incômodo, e que não é exclusivo da Igreja, e nem principalmente.

É um problema da nossa modernidade inconsequente, que só pensa na produtividade e não valoriza os valores da pessoa, coisificando-a. Sem princípios, tudo é válido, desde que dê lucro de alguma forma.
Assuntos particulares não são assuntos para o Papa se manifestar. Deveria então ter entregue o assunto a uma dos Comissões da Santa Sé. Autoridade nunca entra diretamente em assuntos deste nível sem se comprometer comprometendo o seu cago e toda a Instituição.

Enfim, o estrago está feito. Resta tirar as lições, fazendo a lição de casa. Mas que seja feita.
As dificuldades para conduzir um assunto tão escabroso serão muitas. É trabalhar num atoleiro, onde muitos torcem para que o carro atole de vez.
Não se resolve uma questão dessa dimensão dizendo que não se dá
atenção a fofoca...
Não é palavra para a boca do Papa. Denota descontrole. É pena. Mas é também assim que se aprende. Mas o custo é muito alto e penoso para todos. Pagarão os justos pelos pecadores, mais uma vez.

Sobre o celibato, concordo consigo. Não tem nada a ver com pedofilia.
Mas acredito que este é um assunto sério para a instituição eclesiástica. Muito mais do que a pedofilia, que é um problema da sociedade.
Acredito que a abolição do celibato eclesiástico obrigatório não interessaria mais do que uns 20% dos padres seculares. Mas deveria ser enfrentado.
Há problemas seriíssimos em jogo. Hans Kung tem toda a razão e deveria ser ouvido. O nosso P. Diogo Antônio Feijó, tutor de D. Pedro II (Segundo quartel do séc. XIX), viveu e morreu como filho de pais incógnitos, só porque o pai dele era o Vigário de Cotia e a mãe uma senhora da alta sociedade. Lutou contra o celibato obrigatório, com seriedade e, como outros, não foi escutado.
O celibato deveria ser opcional para os padres seculares, por não viverem em comunidades de confrades.

Há um certo farisaísmo pairando no ar, que ninguém quer enfrentar. Um certo faz-de-conta. Uma certa omissão; como a teoria dos três macaquinhos: não vejo, não ouço e não falo.
A Igreja precisa se desfazer de um certo entulho inútill e até prejudicial, para levantar novos voos e retomar a antiga credibilidade de fermento da paz, da justiça e da fraternidade, de que o mundo está tão carente. A Igreja não pode se omitir.
"Por uma omissão perde-se um reino" disse bem Vieira.
Infelizmente muita gente na igreja, vai perdendo o foco de sua missão.
A Igreja parece disposta a abdicar de sua alta missão social, como semente e como fermento.
A Igreja não tem direito de abdicar de suas responsabilidades no mundo.
Mais uma vez muito obrigado.
Respeitosas saudações
JP

Instituto Tropical disse...

Caríssimo Amigo:
Muito obrigado pela réplica.
Estou a chegar da Missa Crismal de hoje. Muito contente.
Estou de acordo consigo na reflexão que faz agora.
Estou certo que o Papa não se deveria ter mostrado “magoado” com as acusações que lhe fazem. Acho que ele deveria ser mais cristalino e cumprir o seu ministério confiado em Cristo.
Devia ficar mais acima e não andar em jogos de força – quase de igual para igual… É um erro muito grave, na praça pública de hoje…
Um abraço com os votos de Santa Páscoa!
Abraço amigo e beijinhos amigos para a sua esposa.
JC

Instituto Tropical disse...

Retribuímos os votos de uma Santa Páscoa. Sua alegria me contagiou. Fazem-nos muito bem uns momentos se alegria.
Isto me faz lembrar o Constituição do Vaticano II, Gaudium et Spes".
Peço desculpas por estar ocupando muito o seu preciosíssimo tempo.
Estou enviando um texto sobre a Cruz Quebrada, em anexo.
Se o senhor quiser ler no site, clique no link abaixo.
http://alfa8omega.blogspot.com/2010/04/cruz-quebrada.html de Salvador, na Baía. As fotos da Cruz eu as achei deslumbrantes;
Tirei-as contra o sol, se pondo na Baía de Todos os Santos.
Espero que as aprecie, mas quando tiver tempo. Ligo a Sexta feira Santa ao dia de Páscoa.
Saudações
JP

Instituto Tropical disse...

Muito bons textos, amigo, cheios de história e de sabedoria…
São bem necessários nos tempos de ignorância que atravessamos…
Força! Ânimo!...
Abraço amigo pascal!

Instituto Tropical disse...

Caro Amigo,
Senti que o texto “Abalo na Igreja”, fala muito à vontade, muito sem cerimônia, com as autoridades da Igreja.
Faz uma crítica contundente ao seu agir às vezes esteriotipado, e pasteurizado.
Apela para a recuperação do essencial da Mensagem Cristã.
As autoridades da Igreja não costumam gostar da intervenção dessas dimensões. Não fazem auto-crítica. Muito menos “Exame de Consciência”.
Você acha que valeu a pena escrever um texto dessas dimensões, sabendo que as autoridades da Igreja, autossuficientes, certamente não vão dar atenção às suas críticas e propostas?
Paulo Teixeira

Instituto Tropical disse...

OUTRO OLHAR SOBRE A IGREJA
Nas boas como nas más horas devemos ser solidários com a Igreja cristã e católica e solidários com Roma, com o Vaticano, símbolo da unidade na diversidade dos cristãos espalhados pelo mundo, com as variadas formas de honrar a Deus no próximo, cumprindo e difundindo o Mandamento Novo: A Nova Mensagem. Olhamos positivamente.

Roma deve ser a Nova Jerusalém, a cidade capital de todos os cristãos do mundo, na sua diversidade criadora. Roma deve ser, na terra, como a Casa do Pai, que a todos acolhe e que não fecha as portas para os filhos pródigos, nem para o bom ladrão, nem para a adultera que Cristo salvou.
Eu penso: Ai de ti Igreja Cristã, Igreja de Roma, se não recuperares o brilho da palavra do Evangelho!...
Com lealdade, não podemos deixar de ver algumas das rugas e cicatrizes, que por, muitas gerações, alguns homens, talvez impelidos por circunstâncias irresistíveis, deixaram em seu rosto, já cansado de ignomínias, mas honrado.
Não podemos deixar de proclamar que a Igreja precisa mudar sempre, como as quatro estações do ano, para levar a Mensagem da solidariedade, da justiça, da paz e da responsabilidade, enfim a Mensagem do Novo Mandamento, do Evangelho, às pessoas de todos os tempos.
Não uma mensagem esteriotipada, pasteurizada, mas uma mensagem viva.
A Igreja na é partido Político. Nem adota o “partido único” nem o “livro único”.
Os valores permanentes e essenciais do cristianismo são dinâmicos e não estáticos.
A Igreja de Cristo é uma igreja que leva luz a todos os povos, mas leva sua luz na proa, no convés e não no escuro de seu porões. Leva liberdade e não a escravidão. Não o jugo.
É uma Igreja da evangelização e não da punição, da exclusão, da condenação, de anátemas aos pseudo-hereges; Estes muitas vezes, apenas manifestaram, com ardor, a necessidade de a Igreja ser mais mãe e menos madrasta, para com muitos de seus filhos, eventualmente equivocados em alguns princípios ou que apenas quiseram que a Igreja aceite a diversidade na unidade, garantindo a identidade de cada povo.
Nem sempre a Igreja entendeu esta sua força dinâmica... Há ainda hoje um certo ranço de comportamento que apenas obscurece o brilho de sua Mensagem e lhe cria dificuldades inúteis.
A hierarquia da Igreja precisa ser aberta a todos, como a Basílica de São Pedro, que recebe a todos, com carinho, sem exigir de ninguém certidão de fé.
A Igreja precisa abdicar de certos fardos, que tolhem os movimentos, para ser efetivamente, portadora da luz.
Vos estis Lux mundi.

Se as autoridades da hierarquia prestarem atenção ao texto “Abalo na Igreja, Crise na Humanidade”, ou não, é problema deles. O texto será lido por muitas milhares de pessoas. Isto me diz que valeu a pena minha dedicação.
Sei que estou ajudando muitos a Olhar a igreja com mais serenidade e outro olhar e a reavivarem sua confiança, para alem de eventuais enxovalhos ou inconsistências.
Por outro lado, tenho confiança que alguém levará este documento muito a sério, porque eu levei o levei muito a sério.

Lembrei-me, neste contexto, de um texto paradigmático, de espírito franciscano, que bem poderia ser chamada Oração do Novo Mandamento, e que deveria ser luz para todos os humanos de boa vontade:

ORAÇÃO PELA PAZ

Senhor,
fazei de mim o instrumento de Vossa PAZ.
Onde houver ódio
Que eu leve o AMOR.
Onde houver ofensas
Que eu leve o PERDÃO.

Onde houver discórdia
Que eu leve a UNIÃO.
Onde houver trevas
Que eu leve a LUZ.

Onde houver erro
Que eu leve a VERDADE.
Onde houver desespero
Que eu leve a ESPERANÇA.

Onde houver tristeza
Que eu leve ALEGRIA.
Onde houver dúvidas
Que eu leve a FÉ.

Mestre,
fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar que ser amado.

Pois é dando que se recebe;
É perdoando que se é perdoado;
E é morrendo que se vive para VIDA ETERNA.
J. Jorge Peralta

Instituto Tropical disse...

Meu caro amigo:
Muito obrigado pelo brilhante texto que escreveu.
Pode vir a ser um bom instrumento de ajuda na reflexão de muitos, ainda que possa não atingir as autoridades da Igreja…
Aproveito para fazer um leve acrescento: a chamada “oração pela paz” (Senhor, fazei de mim…), que inclui no final, foi escrita em 1918 por um pastor protestante suíço, para um retiro ou encontro de estudantes universitários… Publicada numa revista dos capuchinhos, por 1924, levou como legenda: “Oração que reflecte a alma franciscana…”
E, daí para diante, mesmo sem ter nada do estilo de outros textos de S. Francisco, todos dizem e escrevem que é dele e do Séc. XII!!!…
Os Franciscanos actuais, a meu ver, fariam um grande favor a S. Francisco e à sua espiritualidade, se esclarecessem este assunto. É a Verdade que nos libertará.
Um abraço muito amigo e ao dispor
JC

Nota:
Atendendo às informações do senhor P. JC, as informações sobre a Oração pela Paz foram corrigidas: não mais está atribuída a S. Francisco de Assis, embora reflita o espírito franciscano.
Agradecemos ao senhor P. JC pela gentileza dos esclarecimentos.
Todos atribuem a Oração pela Paz a S. Francisco, sem ser verdade. Que a verdade histórica seja respeitada, como sugere o senhor P. JC

Instituto Tropical disse...
Este comentário foi removido pelo autor.