sexta-feira, 23 de abril de 2010

Diálogo franco e fraterno


XII
DIÁLOGO FRANCO E FRATERNO

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Posiciono-me como numa conversa informal ao pé do fogo, em noite de frio, de irmão para irmão, sem estrado e sem cerimônia.
Devo insistir que quero apenas dar a minha opinião, leal, mas firme, num momento de crise. Ofereço apenas uma eventual ajuda para as pessoas fazerem um profundo exame de consciência, sobre as próprias atitudes: para fazerem a lição de casa. Não espero o reconhecimento de ninguém; apenas sei que procurei  cumprir o meu dever.
O Papa, os Cardeais e os Bispos não estão dispensados de fazer o próprio exame de consciência. Não estão além do Bem e do Mal. No entanto, hoje, em todos os setores da atividade humana, há pessoas tão arrogantes, que se julgam além do bem e do mal, devido ao poder eventual a que foram guindados, às vezes por pesadas artimanhas.
O Papa, todos os Papas, deveriam passar à história, não por seu poder imperial absoluto, mas por sua visão e vivência de pastor, humano,  solidário, generoso e fraternal, sem descuidar da sabedoria e da firmeza de atitudes e da visão estratégica sensível para com todos , sem excluir os pecadores. Um homem atento e perplexo diante de tanta insensatez de seu tempo, que observa a todos com o mesmo respeito e sem discriminações, sentindo-se confortável ao dialogar com este mundo plural e multidimensional, cheio de armadilhas; um pastor atento, sagaz, e sempre paternal.
O Papa, como os Bispos,  precisa ser uma pessoa apaixonada pela vida, pela convivência humana, e pela sua missão, mais do que pelo gesto esteriotipado, para a posteridade e para a mídia.
O atual Papa tem restrita experiência de pastoreio, em paróquia, junto ao povo. Faz-lhe falta essa experiência para que ele saiba que às vezes, na prática, a teoria é outra. Ele é um grande intelectual. Terá suficiente humildade para querer aprender as novas correlações de forças que se defrontam no mundo, ao qual ele se dirige.

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O Diálogo do Papa, dos Cardeais e dos Bispos, com o mundo, deve ser franco, aberto e leal. Ninguém deve ter medo de críticas, elas fazem parte da rotina do dia-a-dia dos gestores do bem público. Às vezes exigem-se nervos de aço dos gestores socialmente comprometidos. Mas quem não deve não teme. As falhas devemos corrigi-las.
Um diálogo franco poderá trazer alguns dissabores, mas poderá trazer muito mais alegrias pastorais. Hoje, todos os Presidentes de Repúblicas são objetos de críticas; também o Papa, os Bispos e os Cardeais; também os governadores, deputados e senadores. Também o presidente da maior potência, os EEUU; também o presidente da ONU; As críticas honestas são salutares.
Mas as críticas golpistas predominam. Por que alguns se escandalizam porque o Papa é criticado. As boas críticas são bem-fazejas. A falta de uma crítica sadia faz inanes e frágeis as melhores instituições. Pense nisto!
Dize-se que “Quem quiser ver belas borboletas terá de suportar algumas larvas”.
O Papa, como todo o bom Pai de família, merece todo o respeito dado às pessoas beneméritas, pela alta missão de seu cargo...

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Precisamos nos cuidar para que as interpelações que Cristo fez aos escrivas e fariseus hipócritas não se apliquem ao Papa e aos Bispos. Releia e confira esse episódio no Evangelho.

Se somos uma família, sentâmo-nos à mesma mesa, e escutâmo-nos uns aos outros. Frente a frente.
É preciso saber que hierarquia é responsabilidade. É serviço. Não tem monopólio do Evangelho.
Non ministrari sed ministrare. Esta norma vale para todos os gestores de bens públicos.
Deus não deu a ninguém o Monopólio da Verdade. A ninguém!
A hierarquia não é a Igreja, é da Igreja; está a serviço da Igreja.
Só uma inconcebível arrogância  poderia  pensar diferente.
A verdade vai sendo compartilhada. Então todos podemos errar e em consequência devemos reconhecer as falhas, corrigi-las e prosseguir o caminho com mais energia.
Quando o Papa ou o Bispo comete desacertos, alguém, com credibilidade, deve dizer-lho, lealmente: “Não é por aí”. O amigo não é o que “diz” o que o outro quer ouvir, mas o que deve e precisa ouvir, sincera e lealmente, e em particular.

No entanto há outros  modos  de olhar a crise atual: “Há males que vêm para o Bem”, diz o povo.
Estou com o Pe. Antônio Vieira, ao declarar:
Quantas vezes os que pareceram acasos, foram Conselhos Altíssimos da Providência Divina!”. (Sermão de Santa Teresa).
Do caos às vezes nasce a Luz.
Diz o povo “Deus escreve direito, por linhas tortas”. Precisamos saber ler os sinais...
Precisamos saber ler para além das ocorrências...

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Não podemos perder a oportunidade que o momento nos oferece de repensar algumas pendências antigas que emperram a Instituição e a expõem ao desdém de muitos.
Os cristãos católicos  precisam reforçar  os motivos  de serem cristãos e católicos, pois isto lhes faz muito bem  e lhes dá mais esperança na vida. Os princípios essenciais do cristianismo católico dão-lhe uma dimensão acolhedora, alegre solidária...
Na crise, os fracos fraquejam...

Recentemente li uma crônica de um ex-pastor  protestante que dizia que
Quando era criança, tinha inveja das crianças católicas, no momento de Natal, porque o Natal católico é muito mais alegre e expansivo e o Natal protestante insosso e morno...

O Novo tempo começa dentro de nós, na terra, por isso rezamos: “Venha a nós o vosso reino”.
Os cristãos precisam se reunir, em torno da  Mensagem do Evangelho, uma Mensagem de Luz para o Mundo.

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