domingo, 16 de abril de 2006

se

           SE
Rudyard Kipling (1865-1936)


Se és capaz de manter a calma quando
toda a gente em redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando
e para esses, no entanto, achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso;
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar - sem que só no teu pensar te mires;
De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores;
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires
tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
em armadilhas as verdades que disseste,
e as coisas por que deste a vida, estraçalhadas,
e refazê-las com o pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única partida
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
e perder e, ao perder, sem nunca dizeres nada,
resignado, tornar ao ponto de saída;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo
a dar o que quer que neles ainda exista,
e a persistir assim, quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda ordena: Resiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre reis, não perder a naturalidade,
e de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes;
Se a todos poderes ser de alguma utilidade;

E Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo o valor e brilho;

Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um homem, meu filho!

Rudyard Kipling nasceu em Bombaim, Índia, e foi educado na Inglaterra.
Em 1907 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.